Um trecho do prefácio preparado por Débora Reis Tavares sobre a edição de A fazenda dos bichos, publicada pela Madrepérola.
O penúltimo livro de George Orwell, o oitavo dentre uma breve carreira ficcional, de apenas nove obras. Essa foi a narrativa que abriu as alas para o renome do escritor inglês na literatura mundial. A fazenda dos bichos desbrava fronteiras inéditas na carreira do autor: em termos de forma, de conteúdo e pelo uso da linguagem objetiva, sua marca estilística fundamental. O requinte de Orwell está, acima de tudo, em se fazer entender.
Para um mergulho profundo nessa obra é preciso levar em consideração sua forma, de modo a compreender que A fazenda dos bichos é uma espécie de fábula satírico-alegórica. Temos a fábula como pano de fundo, por meio do espaço campestre, de animais como protagonistas e de um desfecho com uma “moral da história”. À frente desse pano de fundo, observamos o uso da sátira como ferramenta de linguagem, uma composição irônica contra instituições, sistemas e ideias de determinada época.
Todos esses elementos se entrelaçam numa rede literária sofisticada, cujo toque final está no emprego preciso da alegoria, em que os personagens funcionam como ferramentas para abordar uma mensagem mais ampla sobre o mundo. A alegoria refina ainda mais a composição narrativa, justamente pelo fato de termos tipos sociais, que se personificam nos bichos e humanos da fazenda, de maneira que a substância da matéria social aparece em forma de seres vivos ´[…]
Assim, é de extrema importância observar como se comportam os animais na fazenda e a maneira pela qual esses elementos narrativos operam como comentário crítico. Afinal, estamos diante de uma obra que, com maestria, alinhou elementos formais, impulso histórico e propósito político. O oitavo livro de Orwell mudou para sempre a sua carreira literária e, por consequência, a maneira com que vemos o mundo nunca mais foi a mesma.