Era uma vez um típico príncipe de contos de fadas.
Um daqueles com capa, espada e cavalo branco. Aquele tipo de príncipe que cavalga vales, cruza desertos, escala montanhas e atravessa rios e mares. Tudo para encontrar uma princesa adormecida.
Mas nem tudo ocorreu como o previsto na jornada desse príncipe. Ele acabou se atrasando em sua maratona. Levou mais tempo do que o previsto.
Quando finalmente chegou à torre do castelo da princesa adormecida, ela não estava mais lá. Tinha acordado há anos. Deixando a lenda de lado, foi cuidar da vida. Foi fazer suas próprias escolhas para sua própria vida.
A história desse príncipe que se perdeu no tempo está em “O Príncipe Atrasado”, livro infantojuvenil de Cassia Leslie e Ricardo Dalai que acaba de ser lançado pela editora Madrepérola com ilustrações de Roberta Asse.
A obra é uma paródia teatral dos tradicionais contos de fadas. Com bom humor, os autores trazem para o contexto atual a antiga ideia de princesas que esperam príncipes encantados e príncipes que lutam contra dragões para encontrar princesas igualmente encantadas.
Logo de cara a Bela Adormecida dispensa o príncipe fora de época. Mas ele não desiste, organiza um grande baile com todas as princesas dos contos de fadas para encontrar alguém para viver feliz para sempre.
O resultado é revelador. Com o tempo, as princesas revisaram os padrões de comportamento feminino e não desejam mais príncipes encantados para se tornarem rainhas felizes para sempre.
Elas querem estudar e trabalhar. Querem construir o próprio castelo e governar o próprio reino. Querem fundar empresas e abrir negócios. Desejam vestir roupas com as cores que bem entenderem.
As princesas querem, acima de tudo, que o amor não seja determinado por rígidos padrões morais e sociais. Querem apenas que seja um amor verdadeiro.
Como texto teatral, “O Príncipe Atrasado” é um bom exemplo de como a literatura pode ser acolhedora em atividades paradidáticas. O volume traz toques e sugestões de como o leitor encenar o texto sem grandes castelos, suntuosos vestidos e brancos cavalos.
Texto de Marcos Losnak